Sociedade, cultura e política com jogo de cinturaGuto é assessor de comunicação, se interessa na integração do desenvolvimento sustentável rural e urbano e expressões culturais
Cleverson Girão, estava voltando a pé de uma confraternização com seus colegas de trabalho no Cento da cidade, numa quinta-feira a noite, quando foi surpreendido por homens que saíram de uma Kombi e o jogaram dentro do veículo. Lá dentro os homens tiraram suas roupas e enfiaram uma mangueira em seu ânus, causando dor e constrangimento. Percebendo que resistir o deixaria ainda mais ferido, Cleverson ficou quieto torcendo para que aquela humilhação acabasse logo. Depois Cléverson foi jogado para fora do veículo, longe de onde o interceptaram. Ele não foi à delegacia naquela noite, pois só queria chegar em casa.
No dia seguinte, ele sentiu tontura e mal estar, então decidiu ir até um hospital e saber se o que sentia era em decorrência da agressão. Lá descobriu que havia uma larva de um besouro instalada no seu intestino. A equipe médica achou melhor não retirar imediatamente e chamou um biólogo para identificar o besouro e saber se poderia ser retirado sem risco à saúde do paciente, já que alguns parasitas causam feridas se não forem retirados adequadamente.
Levou dias para que Cleverson pudesse ser examinado pelos médicos novamente e ter a avaliação de um biólogo especialista em insetos. Para a surpresa de Cleverson, a larva não poderia ser retirada por se tratar de um Lucanus megaptero, uma espécie rara de besouro gigante que se alimenta de sangue de bovinos e é protegido pelas leis ambientais. Cleverson tinha que manter o besouro vivo dentro do seu corpo, se alimentando do seu sangue e causando tontura. Ele protestou, disse que não poderia alimentar uma criatura com seu sangue, que ia procurar uma clínica particular para tirar o besouro. Se você fizer isso será preso por crime ambiental, disse o biólogo.
Cleverson ficou indignado, as pessoas estavam mais preocupadas com a larva do besouro do que com a violência que ele sofreu. Ele andava com medo nas ruas, pensando que poderia ser pego de novo. Pensava se os homens o conheciam e se iriam a sua casa em busca do inseto. "Não pedi isso, nem sou voluntário para gerar um besouro que nem conheço". À noite, antes de dormir, ele lembrava dos homens tirando a sua roupa, pressionando a cabeça dele contra o banco da Kombi e explorando seu reto... Muitas noites não dormia, imaginava um besouro do tamanho de uma manga, rasgando sua barriga de dentro para fora...
Com tonturas e vergonha, ele ainda precisava ir até o laboratório de biologia da Universidade Federal para saber se o besouro estava saudável. Era aos sábados, dia da pelada da firma, mas ele precisava ir ao laboratório. Fez isso por meses, até dizerem que já era hora de retirarem o besouro. Retiraram a criatura com mais um procedimento dolorido e desconfortável, colocaram uma pinça longa em seu ânus e retiraram o besouro que era mesmo do tamanho de uma manga.
Depois disso, Cleverson foi para casa, não recebeu parabéns, indenização, nem reconhecimento. Todos no trabalho sabiam pelo que ele tinha passado e nada apagaria isso da sua memória.
Esse texto é uma ficção. Um exercício de imaginação a partir das discussões do PL 1904/24 da Câmara Federal.
Sensação
Vento
Umidade