Notícias de Chapada
Homo Ludens

As Olimpíadas e a nossa necessidade de brincar

Brincar é uma necessidade. Não só pela sua importância político-social, mas pelo seu poder de abstração.

Ensaios

EnsaiosEduardo Butakka é ator, professor de Teatro formado pela UnB e comunicólogo formado pela UFMT.

31/07/2024 12h13Atualizado há 1 mês
Por: Luciana Bonfim
Fonte: Eduardo Butakka

Foi o filósofo Johan Huizinga que se referiu à espécie humana como “Homo ludens”, ou seja, seres lúdicos. A palavra “ludens” vem do latim e significa brincar. Então, podemos dizer que somos seres brincantes, seres com a capacidade de jogar, de brincar, de “fazer de conta”. Assim, o que são os Jogos Olímpicos senão uma grande brincadeira?

Todo jogo pressupõe regras e também um vitorioso. Jogar não teria o mesmo sabor se não fosse permitido ao vencedor gabar-se de sua vitória. Enquanto as Olimpíadas acontecem, esquecemos das guerras, da fome, das dores. E isso não é necessariamente ruim, porque esquecer não é de todo mal. Aliás, como disse Machado de Assis, “esquecer é uma necessidade”. O alívio que os Jogos Olímpicos nos proporcionam pode ser comparado ao deleite das artes e até mesmo da religião. Por alguns dias, o mundo se volta aos seus representantes, verdadeiros titãs que unem em si as virtudes dos deuses do Olimpo e a vulnerabilidade humana. Comemoramos juntos, mas também sofremos com eles, porque nos fazem lembrar que, embora dotados de habilidades, nunca seremos deuses. E, assim como tudo que é bom nos é dado em migalhas, os jogos chegam ao fim.

Seguimos criando outras encenações para nos ajudar em nossas escolhas. Por exemplo, os julgamentos nos tribunais, onde cada um ali tem seu papel muito bem definido e conhece as regras do jogo. Também recorremos ao lúdico quando precisamos escolher nossos representantes. A essa brincadeira, damos o nome de eleições. Aceitamos as convenções desse jogo, escolhendo para quem vamos torcer e votar.

Brincar é uma necessidade. Não só pela sua importância político-social, mas pelo seu poder de abstração. A força do lúdico acessa um lugar que, em nossa sociedade, só é permitido às crianças.

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