UM FILME A DOISElton Rivas é apaixonado por cinema, vídeo, séries, comerciais de TV e outras expressões audiovisuais. Psicólogo, Doutor em Comunicação e Semiótica e professor universitário.
David Bowie, o camaleão da música, dispensa apresentações. Mas gostaria de destacar sua presença no cinema. Não como ator, território em que Bowie também se aventurou, mas pelo uso de suas canções a favor da narrativa. Quando suas músicas surgem em algum filme, é como um convite para participar da cena, uma imersão. Sinto que Bowie me tira para dançar.
Comecemos com A Marca da Pantera. Cat People (Putting Out the Fire), domina a trilha sonora do filme. Décadas depois, Tarantino, com seu gosto peculiar, reutilizou a canção em Bastardos Inglórios, na cena em que Shoshanna, interpretada por Mélanie Laurent, se prepara para incendiar o cinema, literalmente e figurativamente. A música não poderia ser mais apropriada.
Quem se esquece de Greta Gerwig correndo pelas ruas de Nova York ao som de Modern Love em Frances Ha? É uma cena que te faz querer largar tudo e sair correndo também, apenas para sentir essa mesma leveza, essa liberdade.
Em As Vantagens de Ser Invisível, Heroes surge na icônica cena do túnel, onde os personagens, jovens e cheios de esperança, se entregam à sensação de invencibilidade. Emma Watson nos faz acreditar que todos podemos ser heróis – nem que seja por um dia.
Lars von Trier traz Young Americans de forma sutil e amarga em Dogville e Manderlay. As imagens do declínio americano ganham peso com a voz de Bowie, mostrando o lado da história que preferem esconder. Von Trier faz de Bowie a trilha certa para suas narrativas, que não poupam ninguém.
E Ben Stiller, perdido em devaneios em A Vida Secreta de Walter Mitty, finalmente toma coragem para viver sua grande aventura ao som de Space Oddity, cantada por Kristen Wiig. Uma cena que transforma o sonhador em protagonista de sua própria vida – uma versão moderna do Major Tom, mas desta vez com final feliz.
Wes Anderson, claro, também trouxe sua dose de Bowie em A Vida Marinha de Steve Zissou. Só que aqui, Seu Jorge faz versões acústicas e em português de clássicos como Starman e Changes – heresia para alguns, mas sem dúvida um dos tributos mais únicos e criativos ao legado de Bowie.
Por fim, temos Starman surgindo em Perdido em Marte. A trilha sonora embala a preparação de Mark Watney (Matt Damon) para seu retorno à Terra. De certa forma, a canção une a humanidade – cientistas de várias partes do mundo se esforçam para trazê-lo de volta –, e Bowie, como sempre, está lá, fazendo com que todos acreditem que é possível.
E, finalizando, ainda me agarro à melancolia, doçura e uma espécie de desespero que sinto quando Under Pressure surge em Aftersun. Nesse momento, Paul Mescal, o pai, chama sua filha Sophie (Frankie Corio) para dançar. Eu vou junto. A cena, ao som da música de Bowie e Freddie Mercury captam emoções que só o tempo, a nostalgia e a vida são capazes de trazer à tona.
Sensação
Vento
Umidade