Ixcuta AquiLuciana Bonfim é jornalista, fundadora do site Notícias de Chapada, além de cantora e compositora cuiabana. Com experiência no cenário musical e paixão pela arte, ela conduz a coluna "Ixcuta Aqui", unindo seu olhar sensível e sua vivência para explorar o universo da música e do cinema com paixão.
The Handmaid's Tale (O Conto da Aia), baseada no romance distópico de Margaret Atwood, publicado em 1985, ganhou vida nas telas em 2017, através do Hulu, e rapidamente se tornou um fenômeno cultural. Criada por Bruce Miller, a série retrata um futuro sombrio onde os Estados Unidos são tomados por um regime teocrático chamado Gilead, que subjuga as mulheres, especialmente as "aias", reduzidas à condição de escravas reprodutoras.
Com a eleição de Donald Trump em 2024 e seus decretos polêmicos, como restrições aos direitos reprodutivos das mulheres e políticas anti-imigração, The Handmaid's Tale adquiriu uma nova relevância. Muitos enxergaram na série não apenas uma ficção, mas um alerta sobre os perigos do autoritarismo, da misoginia e do fundamentalismo religioso. Nas redes sociais, as comparações entre o governo Trump e o regime de Gilead proliferaram, com manifestantes adotando os icônicos vestidos vermelhos e toucas brancas das aias em protestos pelos direitos das mulheres.
A diretora Reed Morano, responsável pelos primeiros episódios, conferiu à série uma estética visual deslumbrante e perturbadora. Cores vibrantes, enquadramentos precisos e uma fotografia meticulosa contrastam com a brutalidade da narrativa, criando uma atmosfera ao mesmo tempo bela e aterrorizante. As cenas de violência, muitas vezes gráficas, são um lembrete impactante da opressão vivida pelas personagens.
Elizabeth Moss, no papel de June/Offred, entrega uma atuação magistral, capturando a resistência silenciosa e a luta interna de uma mulher aprisionada em um sistema desumano. Sua performance rendeu múltiplos prêmios, incluindo um Emmy. O elenco também inclui nomes como Ann Dowd, que venceu um Emmy por sua interpretação da cruel Tia Lydia, e Yvonne Strahovski, brilhante como Serena Joy, uma figura tão complexa quanto ambígua.
Com direção impecável, atuações poderosas e uma narrativa que ecoa os tempos atuais, a série transcende a ficção: é um alerta urgente.
A trilha sonora, que combina músicas clássicas e contemporâneas, adiciona camadas emocionais à história. Canções como You Don’t Own Me, de Lesley Gore, e Heart of Glass, da Blondie, ganham novos significados no contexto da série, reforçando a luta por liberdade e autonomia.
Margaret Atwood, autora do livro, sempre destacou que tudo o que aparece em sua obra já aconteceu em algum momento da história. Essa conexão com a realidade é o que torna The Handmaid's Tale tão perturbadora e necessária. A série nos lembra que direitos conquistados podem ser perdidos e que a vigilância constante é essencial para preservar a liberdade.
The Handmaid's Tale está disponível no Hulu e, no Brasil, pode ser assistida na Globoplay e no Prime Video. Em um mundo onde decisões políticas têm impacto direto sobre os direitos humanos, assistir a essa série vai além do entretenimento: é um ato de reflexão e resistência.
A pergunta que fica é: estamos realmente tão distantes de Gilead? The Handmaid's Tale nos convida a pensar sobre isso – e a agir antes que seja tarde demais.
Se você ainda não assistiu, corra para conferir essa série essencial. Mas um aviso: é preciso ter coração e estômago fortes.
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