Figura histórica de Mato Grosso, a escrava Mãe Bonifácia terá sua trajetória contada em um filme que deve ser lançado ainda este ano. Protagonizada pela experiente atriz Zezé Motta, a produção já está em andamento e a intenção é que o longa-metragem seja lançado ainda neste ano
A produção conseguiu financiamento depois da aprovação do edital de R$ 2 milhões da Lei de Emergência Cultural Paulo Gustavo.
O site MidiaNews conversou com o diretor mato-grossense Salles Fernandes, responsável pela obra, cujas filmagens começam nas próximas semanas e devem ser concluídas em maio.
“Nós temos uma figura que foi muito importante para a história de Cuiabá, para a história de Mato Grosso, porque ela salvou muitas vidas, ajudou muita gente a se livrar da escravidão”, diz.
Escravizada curandeira, Mãe Bonifácia viveu em Cuiabá na segunda metade do século XIX. Com a idade avançada, não era mais importunada e obrigada a trabalhar como escrava. A casa de Mãe Bonifácia ficava bem perto de um córrego em que os escravos em fuga passavam, e ela os ajudava em segredo.
Mãe Bonifácia é homenageada com o nome do principal parque urbano de Cuiabá construído onde era um antigo quilombo (local conhecido no Brasil colonial por ser refúgio para pessoas pretas que fugiam da escravidão).
Registro histórico
O diretor lembrou do papel documental da produção, considerando que ainda há quem não acredite na história da curandeira.
“Isso é um resgate à história do Estado, que por muitos anos tentaram apagar. Então a gente vê de uma relevância enorme contar uma história sobre uma figura tão importante como ela”.
O filme será ambientado na antiga Cuiabá de 1860, época em que ela atuou como salvadora de vidas negras.
“Vai ser o primeiro longa dedicado à Mãe Bonifácia. Acho que este filme vai ser uma grande divulgação a essa figura feminina. A gente tem inúmeras personagens fortes em Mato Grosso e a mãe Bonifácia é uma delas. Então é um filme que se torna também um documento histórico”, acrescenta Salles Fernandes.
O elenco
A escolha da atriz Zezé Motta, de 80 anos, foi feita pela semelhança entre as lutas das mulheres, de acordo com o diretor.
“Acho que a Zezé é a Mãe Bonifácia. Se a gente olhar toda a história de luta da Zezé Motta, a gente vê uma atriz incrível e toda a sua luta pelo movimento negro. Não vejo ninguém melhor para protagonizar a não ser ela”, afirma.
Zezé Motta nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ) e se mudou para a capital fluminense ainda na infância. Desde criança já se interessava pela arte, e conseguiu o seu primeiro papel como atriz aos 24 anos, na novela "Beto Rockfeller", da TV Tupi.
Desde então a atriz não parou mais. Zezé participou de inúmeras novelas e filmes, e um dos mais conhecidos foi o longa-metragem "Xica da Silva", quando interpretou uma jovem ex-escravizada.
A produção está abrindo testes para outros atores, dando preferência a profissionais de Mato Grosso.
A produção
Apesar de ser ambientado na Capital, o filme é produzido em Sorriso por questões técnicas de produção de cenários, adereços, figurinos e locais de filmagem. Todo o cenário foi produzido a fim de garantir a maior veracidade possível da estética da época.
Além disso, a produtora responsável, Artimagem, e a equipe de produção e figurantes, que consistem em quase 50% dos profissionais totais, também são do município.
De acordo com Salles Fernandes, a previsão de lançamento é entre outubro e novembro.
O diretor pretende divulgar um primeiro corte no Cine Teatro em Cuiabá e também em Sorriso, antes de levá-lo aos festivais de cinema.
Esse circuito por festivais tem a intenção de apresentar a produção nacional e internacionalmente para que ela ganhe destaque e relevância no meio cinematográfico. A partir deste reconhecimento, torna-se mais fácil para a equipe reproduzir o filme em plataformas de streaming e cinema.
“As nossas expectativas com relação ao filme são enormes, porque a gente está lidando com uma figura muito poderosa, que será interpretada por uma atriz muito poderosa. Então a gente está bem animado, sabe que o potencial do filme é muito, muito grande”, acrescenta o diretor.
Salles Fernandes já é conhecido por levar a cultura mato-grossense e nacional para o Mundo a partir dos curta-metragens, com o "O Minhocão do Pari – A Origem da Lenda" e "Tereza de Benguela".
Rosivania Reichert, responsável pela Artimagem, diz que o objetivo da obra é a representatividade cultural.
“Nosso objetivo é contar uma história potente, com representatividade e impacto cultural, além de fortalecer o audiovisual local. Estamos muito felizes em dar esse passo e trazer nomes tão importantes para essa produção”, finaliza.
Sensação
Vento
Umidade