Sociedade, cultura e política com jogo de cinturaGuto é assessor de comunicação, se interessa na integração do desenvolvimento sustentável rural e urbano e expressões culturais
Você deve ter notado que se tornou comum algumas pessoas dizerem “ eu tenho um ponto ”. Essa é a tradução literal da expressão em inglês “I got a point”. Mas temos formas diferentes de dizer isso na nossa língua, especialmente no Brasil. O habitual seria dizer: eu tenho um argumento, eu tenho uma observação sobre isso, ou ainda, eu tenho um ponto de vista. Quando se quer dar razão ao argumento, também tem sido comum ouvir “ele tem um ponto”, quando poderia ser dito “ele tem razão” ou “o argumento dele é forte”.
Essa mudança da forma de falar é um anglicanismo, a influência da língua anglicana (o inglês) na nossa língua. O mesmo fenômeno que nos faz adotar termos como deletar ou blecaute. Podemos listar mais termos recentemente adotados.
É sobre isso - Tem uma frase do filme Rocky Balboa que se transformou num slogan motivacional. “Mas não é sobre o quão forte você bate. É sobre o quão forte você consegue apanhar e continuar seguindo em frente”. Estava escrito exatamente assim na legenda e eu estranhei na hora. Não muito tempo depois, veio o bordão “é sobre isso”. Ao adaptar a frase de Balboa para a forma convencional de falar a nossa língua, teríamos “ Não se trata de quão forte você bate, mas o quanto você consegue apanhar e seguir em frente”. Simples assim, sem estranhamentos.
Eu apliquei pra uma vaga - Parece que se tornou comum na linguagem corporativa essa construção, quando o correto seria “eu me candidatei para uma vaga”, assim, com o pronome reflexivo me, ou “eu concorri a uma vaga”. Vem do inglês “I applied for a position” ou “applicattion for a vacancy”.
Eu vou estar transferindo - Esse jeito de falar já ficou famoso e tem sido evitado, é o tal do gerundismo. Ficou famoso entre os profissionais de vendas, especialmente entre atendentes de telemarketing. Vem de uma construção do inglês que não existe no português e pode ser encurtado e ficar mais direto dizendo apenas “eu vou transferir”.
A língua é viva e dinâmica, esses maneirismos podem vir e ficar, como podem ser modismos passageiros. As mudanças da linguagem não dependem da minha aprovação nem do meu gosto pessoal, dependem principalmente da forma que os falantes fazem uso dela.
Sensação
Vento
Umidade